Na Alemanha nazi, os produtos do tabaco eram enca­rados com desprezo. Uma campanha de cartazes muito popular na época mostrava a cabeça de um fumador a ser esmagada pelo salto de uma bota alta, e em inúmeras oca­siões Hitler há-de ter desejado que aquele fumador fosse Winston Churchill. As enormes diferenças entre os dois homens, democrata e ditador, incluíam também a questão do fumar. O suposto vegetariano radical, que talvez visse o seu corpo como um templo sagrado ao mesmo tempo que reduzia a cinzas milhões de outros, era um antifumador obstinado, sob cujo regime foram tomadas as primei­ras iniciativas antitabagistas com cariz científico.

Em 1939, Franz H. Müller foi o primeiro cientista a usar o método epidemiológico conhecido como «caso-controlo» para do­cumentar a relação entre o hábito de fumar e o cancro do pulmão. Hitler era a pin-up girl que ilustrava a vida perfei­tamente saudável. Em 1937, posou para a capa da revis­ta alemã Auf der Wacht, com a seguinte legenda: «O nosso Führer Adolf Hitler não bebe álcool nem fuma... O seu desempenho no trabalho é incrível.»

Encontramos o ine­vitável contraponto destas pretensões alemãs na réplica que Churchill deu ao general Montgomery, que partilha­va várias das atitudes de Hitler no respeitante a uma vida saudável e que certa vez declarou: «Não bebo, não fumo, durmo muito. E por isso que estou cem por cento em for­ma.» Resposta de Churchill: «Bebo muito, durmo pouco e fumo charuto atrás de charuto. É por isso que estou du­zentos por cento em forma.»

Stephen McGinty, Churchill e os Charutos: uma paixão que atravessou a Guerra e a Paz, Ed. Alêtheia, Lisboa, Novembro 2007

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